domingo, 19 de janeiro de 2014

A Jornada de Esperança - Parte IV

A Partida


          Mersonii observou atentamente a desmaterialização do duplo de Sinuhe. Sentia num canto de sua mente, que se considerava um assassino. Foi o próprio Sinuhe quem quis finalizar aquela vida duplicada – um suicídio assistido, disse Viatilis. Mas não era assim que se sentia. Dera cabo daquela vida, apesar dos milhares de bits que foram para o banco de dados. Mas não tinha como pensar nisso agora. Esperança tinha que partir. Faltavam menos de sessenta minutos para o disparo do quasar. Desmanchou sua projeção mental e mergulhou toda a sua atenção na sala virtual de comando que o coletivo de sua equipe de pilotos psíquica criava, dando suas primeiras ordens:

          - Steno, nossa situação?

          - Como previsto, Capitão, a poeira de nanomáquinas da GOE retirou-se da rota da rajada do quasar. Temos caminho livre para navegar em sub-luz sem sermos detectados até a borda da galáxia.

          - Stenella?

          - Escudos ao máximo, Senhor.

          - Visidii?

          - Rota traçada de acordo com as informações do Tático, Capitão.

          - Plumbea?

          - Caminho livre, Capitão. Nenhuma atividade GOE nas proximidades. A nave inimiga mais próxima está a quatro meses luz de distância, seguindo em direção oposta.

          - Hectori?

          - Toda comunicação GOE na área sob vigilância, Senhor. Nenhum bit a nosso respeito.

          - Tempo, Trópia?

          - Quarenta minutos para o disparo. Devemos partir agora, Capitão.

          - Teuszii?

          - Motores de impulso prontos no aguardo, Capitão.

          - Acionar, Teuszii. Começando com meia-luz, acelerando até atingir noventa e sete por cento no momento do impacto da rajada.

          - Sim, Capitão.

          - Mantenha a rota, Visiddi, os demais fiquem atentos.

          Esperança acionou seus poderosos motores psiônicos. A velocidade meia-luz foi atingida em dez minutos.

          Enquanto esperavam pelo impacto da rajada do quasar, Mersonii voltou a pensar em Sinuhe. As divergências entre o duplo do Marechal e Viatilis chegaram a um ponto sem volta. Como militar, Sinuhe jamais concordara com essa fuga. Deveriam lutar até o fim e aceitar a derrota, se assim o fosse. Mas Viatilis insistiu nessa jornada e Sinuhe optou por não fazê-la, transformando-se em dados. Mas o que Sinuhe talvez não soubesse, eram os motivos de Viatilis para criar esse plano de fuga. Para destruir GOE, Viatilis estava disposto a destruir também quase toda a Galáxia Anã de Nobiloria. E Mersonii com seus companheiros iriam ser os executores desta ação. Ele já se sentia culpado por matar um homem, mas num futuro breve todos eles iriam executar até mesmo a Mãe de Todas as Estrelas, a deusa Nob. O estresse gerado para esconder essa informação de Sinuhe fora terrível. Apesar de humano, Sinuhe tinha uma mente poderosa, e esses anos de convívio com diversos psíquicos a capacitaram ainda mais. Mersonii não tinha condições de determinar se Sinuhe havia descoberto algo ou não. Talvez, o que levara Sinuhe ao suicídio fora o fato de acreditar que o seu eu original receberia todas as informações de sua alma. A voz de Trópia tirou Mersonii de seus pensamentos.

          - Sete segundos para disparo do quasar, cinco, quatro, três, dois, um, Plumbia?

          - Disparo confirmado e na rota prevista. Vai nos atingir em 5 minutos, Vice-Capitã.

          - Informe, Visiddi.

          - Estamos na rota e velocidade corretas, Capitão.

          - Steno, e os nanos?

          - Caminho livre, Capitão. Eles estão mantendo posição apenas na borda da galáxia. Temos que estar mergulhados na rajada antes de atingi-los, ou seremos detectados. Temos dez minutos para essa manobra após o impacto.

          - Stenella, acionar rotação dos escudos. Preparar para impacto.

          - Escudos em rotação com aletas abertas, Senhor.

          - Nensis, situação.

          - Todos estamos perfeitamente bem, Capitão. Sistemas de suporte de vida em pleno funcionamento.

          - Trópia?

          - Um minuto para a rajada e contando.

          Sob a contagem da Vice-capitã, a rajada atingiu Esperança. Sua imersão no interior do feixe abriu um buraco na extremidade. A potência dos motores foi sendo reduzida até atingir um ponto de equilíbrio. Os escudos em rotação sugavam massas de energia da traseira da nave, lançando-as a frente e selando a extremidade do feixe. Esperança viajava agora tranqüilamente dentro da rajada do quasar, totalmente oculta, quase à velocidade da luz. Ela passou pelas nanomáquinas na borda de Nobiloria sem ser detectada.

          Plumbia projetou sua consciência fora da nave, observando toda a manobra. Ela não detectou a menor divergência entre a rajada em que eles mergulharam, das demais observadas anteriormente. Hectori também não encontrou nada nas comunicações da GOE que denunciasse a presença de Esperança. Plumbia podia agora observar todo o esplendor do gigantesco disco da Via Láctea e compartilhou essa imagem com os demais. Estavam a caminho de um novo lar.


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